O Prémio Nobel da Física 2024 foi atribuído a John Hopfield e Geoffrey Hinton, reconhecendo o seu trabalho pioneiro no desenvolvimento de redes neuronais artificiais, uma tecnologia que revolucionou a Inteligência Artificial (IA). Esta inovação permitiu que as máquinas começassem a “aprender” de forma semelhante aos seres humanos, embora em escala reduzida, abrindo portas para aplicações como tradução automática, reconhecimento de imagens e a geração de textos complexos.

Estas redes neuronais, embora mais simples que o cérebro humano, trouxeram avanços notáveis, especialmente na forma como reforçam as conexões entre neurónios artificiais, permitindo a otimização da aprendizagem. A física estatística desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento de algoritmos que suportam a evolução da IA e, hoje, estas tecnologias são parte central de muitas inovações que impactam o nosso dia-a-dia, desde recomendações de conteúdo digital até sistemas avançados de IA.

Geoffrey Hinton, no entanto, levantou preocupações sobre o uso irresponsável da IA, advertindo que “there’s no guaranteed path to safety as artificial intelligence advances” e que, se não for desenvolvida de forma responsável, a IA “might take over.”

Essas reflexões são especialmente pertinentes no contexto do AI Act, o primeiro regulamento da União Europeia que estabelece regras rigorosas para garantir que a IA seja utilizada de forma segura, ética e transparente. O AI Act busca mitigar os riscos associados à IA, promovendo a conformidade e a confiança pública.

No contexto do AI Seoul Summit programado para 2025, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, tem destacado a importância da normalização como um meio essencial para implementar a legislação da IA. Ele enfatiza que a IA pode ser uma ferramenta fundamental para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), mas alerta que, sem um marco regulatório eficaz, os riscos, como a desinformação e a vigilância em massa, podem aumentar. Guterres sublinha a necessidade de desenvolver normas que considerem a ética e garantam que a IA beneficie a todos, sem amplificar desigualdades.

Em Portugal, o IPQ está a implementar o seu Plano de Normalização, em alinhamento com o AI Act, para desenvolver normas que promovam o uso ético e seguro da IA, reforçando a transparência e a proteção dos utilizadores. Este plano inclui a criação de normas que facilitem a aplicação prática do AI Act, assegurando que a IA se torne uma força de inovação ao serviço da sociedade.

Como parte das celebrações do Dia Mundial da Normalização, o IPQ irá divulgar duas ferramentas inovadoras baseadas em IA:

  1. Tradutor de Normas: Uma ferramenta que visa aumentar exponencialmente o número de normas disponíveis em português, reduzindo o tempo de tradução e aumentando a acessibilidade para PME, organizações públicas e ONGs. Esta ferramenta responde à necessidade de uma maior eficiência na tradução de normas, que atualmente pode ser um processo demorado.
  2. Assistente Virtual: Um sistema de suporte técnico disponível 24 horas por dia, que irá auxiliar as empresas na interpretação e aplicação de normas. Este assistente, baseado em IA, fornecerá respostas em tempo real sobre a aplicabilidade das normas, facilitando a sua adoção pelas empresas e contribuindo para a competitividade.

Embora estas ferramentas estejam a ser divulgadas agora, a sua implementação completa está prevista para os próximos meses, à medida que o IPQ continua a modernizar os seus serviços, alinhando-se com as exigências do AI Act e das diretrizes europeias de normalização.

O impacto da IA na sociedade é inegável, e o IPQ posiciona-se na vanguarda ao assegurar que, através da normalização, a IA contribua para um futuro mais seguro, inclusivo e inovador. Neste contexto, a normalização não apenas facilita a integração da tecnologia na vida cotidiana, mas também garante que o progresso tecnológico seja guiado por princípios éticos e centrado no bem-estar do cidadão.

2024-10-14